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Os desafios do ensino digital

Filonared
  • Por: Guilherme De Franco
  • data publicação: 05/02/2020 16:33:09

Somos bombardeados de dicas e informações todos os dias. Mas como saber quais são realmente relevantes?


Os desafios do ensino digital

Imagine o seguinte cenário: você precisa aprender algo super complexo e elaborado para conseguir utilizar este conhecimento em uma prova que definirá os rumos de sua vida profissional. Um amigo te manda uma mensagem informando que haverá uma palestra aberta e aparentemente sem custos no centro da cidade com pessoas que prometem te ajudar na obtenção deste conhecimento. Interessante, não é? Você se dirige até o local informado e descobre que essas pessoas não possuem formação alguma sobre o assunto complexo que você precisa estudar, mas se dizem bem sucedidas na área e com técnicas infalíveis e fáceis de aprendizagem. Imagine que você desconfie da idoneidade destas pessoas, em sua maioria jovens que nem experiência no mercado de trabalho possuem. Você está cercado de milhares de pessoas e começa a se questionar, como é possível que tais pessoas mantenham aquele público cativo, aquela imensidão de seguidores fiéis. Um dos palestrantes promete técnicas infalíveis, outro promete resumos em 5 minutos ou menos. Ainda existe aquele que te oferece algo pronto e diz que se você decorar e copiar você passa na sua prova. O público vai ao delírio. Os ouvintes gritam palavras de amor e repetem as fórmulas como se oferecessem alguma salvação.

No outro canto da cidade, um professor que se dedicou a vida inteira àquele conhecimento, que tem formação e experiência, que poderia te ajudar de fato na busca pelo conhecimento sólido e em reflexões mais profundas, desiste de sua carreira. Não há público. Os alunos desistiram de buscar, se viraram conta o esforço do verdadeiro aprendizado. Frustrado, ele finalmente desiste.

Apesar de parecer um cenário distópico e desolador, é possível perceber isso cada vez mais presente, sobretudo na internet. As plataformas de vídeo permitem que cada vez mais pessoas tenham acesso à todos os tipos de informação. O grande problema da atualidade é a qualidade destas informações. Sem o desenvolvimento do senso crítico e de uma educação do pensamento, os indivíduos se tornam cada vez mais suscetíveis aos enganadores da imagem. Soam como os “falsos profetas” das citações religiosas. Prometem muito, mas acabam ludibriando os que mais necessitam de uma verdadeira base.  A ampliação do acesso ao conhecimento implica em avaliarmos constantemente a qualidade destas informações e até que ponto tais práticas contribuem ou não com nossa formação enquanto indivíduos pensantes. A sedução da imagem é uma constante na internet. Os vídeos dos youtubers e “instagramers” que se consagraram como “pseudoeducadores” do dia para a noite são muito bem editados. Possuem frequência de postagem, são recomendados pelos algoritmos destas plataformas como “relevantes”. Mas será mesmo que em um país com tanta defasagem educacional, a solução seria nivelar por baixo esse conhecimento? Deixar nas mãos destes ícones instantâneos da juventude, uma tarefa tão árdua e importante como a de educar para o conhecimento e para a vida em sociedade? Em termos mais práticos, você confiaria seu ano de vestibular nas mãos de alguém assim?

Tal fenômeno não atinge apenas a educação. Existem incontáveis vídeos que prometem a cura de condições como a depressão e a ansiedade através de práticas desencorajadas e até criticadas pelos profissionais da área de saúde.  Imagine os danos reais que estas práticas irresponsáveis geram todos os dias na nossa sociedade. E a longo prazo, quem vai pagar este preço? É preciso deixar de lado essa conivência com o pseudoconhecimento e começar a questionar as bases frágeis de um ensino digital que busca mais a imagem e a popularidade do que o verdadeiro aprendizado.

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